Como a mestra de bateria de Porto Alegre foi ensinar samba aos ingleses
Alexsandra Amaral foi a primeira mulher mestra de bateria em Porto Alegre.
Ritmista levou seu talento para a Arco-Íris, escola de samba de Cambridge.


RS em Londres (Foto: Arquivo pessoal)
Hoje, os Fidalgos estão agonizando. Como ficou em último lugar da terceira divisão do samba no ano passado, a escola foi afastada, já que não há um andar abaixo para cair ainda mais. Atualmente, só ensaiam, mas não produzem nem fantasias e alegorias. Por ora, não há lugar para desfilar.
Mas não é pelo momento agonizante de seu berço que Alexsandra iria para o mesmo caminho. Antes disso, passou por outras escolas, como a Imperatriz Leopoldense. Também foi ritmista da incomparável bateria da Restinga, que também foi assunto aqui na coluna Sambeabá .
Pois além da fronteira do preconceito, ela cruzou outras. A última delas após horas de avião e alguns milhares de quilômetros. Atravessou o Atlântico e foi fazer samba na Inglaterra. Mais precisamente na Arco-Íris (www.arcoiris.org.uk), uma espécie de escola de samba fundada no ano de 1993 em Cambridge, cidade inglesa onde está uma das universidades mais importantes e antigas do mundo.
O grupo percorre a Europa fazendo samba e, as vezes, até dançando capoeira. Os ritmistas são ingleses e vão dos 9 aos 70 anos, entre semiprofissionais e amadores que nunca chegaram perto de um instrumento de percussão. Mas não precisa, já que o único pré-requisito é paixão por sons brasileiros e vontade de aprender. E para ensinar que Alexsandra chegou por lá. Graças ao seu talento como percussionista, foi garimpada em um boteco da Cidade Baixa, onde toca cajón para acompanhar cantores e violonistas da noite porto-alegrense.

e jogando capoeira (Foto: Arquivo pessoal)
O encantamento não ficou apenas ali. Jane acompanhou o trabalho de Alexsandra em escolas municipais da Ilha dos Marinheiros e da Vila Nazaré. E não foi só assistir, já que a visita virou oficina para as crianças. O idioma? Nem inglês, tampouco português. A linguagem musical foi que permitiu a integração entre mundos tão distantes, mas pouco diferentes.
Da mesma forma foi quando Alexsandra partiu para a Inglaterra, a convite de Jane. Mesmo sem falar inglês, ela comandou oficinas de samba para os ritmistas ingleses. Ainda integrou um grupo de jazz e, como se estivesse por aqui, fez música na noite.
Ela já voltou, mas tem convite para outra temporada na Europa. Vontade de ir, é claro que tem, mas por aqui há a esperança de voltar a comandar uma bateria de escola de samba. Você duvida dela? Eu não.
* Vinicius Brito , colunista do G1 RS, é jornalista e apaixonado por samba e Carnaval. Desde 2008, é compositor de sambas-enredos.
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